Monday, April 4, 2016

A Filha da Índia


Namastê

Sempre que posso (e tenho tempo), costumo assistir filmes indianos. Não vou mentir, detesto aquela parte dos musicais que fazem os filmes ficarem extremamente longos. Todavia, aprendi (às duras penas) que aquilo tudo faz parte da orientação cultural existente na Índia desde os primórdios. Sendo assim, sou uma mera observadora, nada mais.

Recentemente assisti a um documentário da diretora e produtora inglesa Leslee Udwin, chamado "A Filha da Índia"totalmente diferente de qualquer filme Bollywoodiano que estamos acostumados. Porém, como mulher, esposa e mãe, não posso me calar e não compartilhar tamanha atrocidade.

A personagem principal era Jyoti Singh, estudante de medicina de 23 anos, uma menina que abriu mão do dinheiro que seria gasto em seu casamento (dote) para pagar a faculdade de medicina. Que trabalhava de madrugada num call center pra poder ajudar seus pais. Que confrontava o machismo e que lutou o quanto pôde para viver de acordo com o que ela acreditava. (Acho que não muito diferente de nós mulheres)

No dia 16 de dezembro de 2012, ela e um amigo saíram de um cinema num shopping de Nova Déli, e pegaram um ônibus para voltarem pra casa, era aproximadamente 21 horas. Dentro do ônibus, havia cinco homens e um rapaz menor de idade, todos colegas, incluindo o motorista. Durante a viagem, a estudante foi brutalmente estuprada pelo grupo em seguida, foi atirada para fora do veículo e após alguns dias, Jyoti morreu.

Há uma desvalorização muito grande da mulher na sociedade indiana. É como se não houvesse lugar para nós na cultura daquele país. De acordo com os números do governo indiano, uma mulher é estuprada a cada 20 minutos.


Uma das passagens mais chocantes do documentário acontece numa conversa com Mukesh Singh, um dos condenados pelo estupro. Sua feição permanece fria por toda a entrevista, e ele não demonstra nenhum tipo de remorso; inclusive, culpa a vítima pelo ocorrido, além de deixar claro que pensa que ela mereceu tal brutalidade. "Uma garota decente não sairia por aí às 21h", diz Mukesh.


Assim que o documentário foi lançado mundialmente, o governo indiano baniu sua exibição na Índia. A cultura indiana é muito machista ainda nos dias de hoje. Entretanto, acredito que as diversas manifestações públicas por parte da sociedade mais jovem da Índia tenha surtido grande avanço sócio-cultural. 

Lembro das inúmeras vezes do meu sogro me alertando para que eu JAMAIS me separasse deles na minha estadia da Índia. Ficava furiosa por me sentir enjaulada, com raiva deles, achava que era exagero, quando que, na verdade, ele - o meu sogro - sabia exatamente dos riscos que uma mulher corre andando sozinha na Índia.

Vi jovens nas ruas, exigindo leis mais sevaras para o crime de estupro, tão comum e banalizado pela impunidade naquele país. Foi um primeiro passo. Infelizmente isso jamais trará de volta Jyoti ou até mesmo a paz no coração daqueles que a amavam. Que o sacrifício dela tenha servido para uma maior percepção humana daqueles que ainda desvalorizam tanto a mulher na Índia.

Se quiserem assistir na Netflix: 

https://www.netflix.com/search/india's%20daughter?jbv=80073593&jbp=0&jbr=0

Fonte: http://www.vice.com/pt_br/read/a-filha-da-india-o-filme-sobre-o-estupro-coletivo-que-chocou-o-mundo-chega-ao-brasil

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