Namastê
Sempre que posso (e tenho tempo), costumo assistir filmes indianos. Não
vou mentir, detesto aquela parte dos musicais que fazem os filmes ficarem
extremamente longos. Todavia, aprendi (às duras penas) que aquilo tudo faz
parte da orientação cultural existente na Índia desde os primórdios. Sendo
assim, sou uma mera observadora, nada mais.
Recentemente assisti a um documentário da diretora e produtora
inglesa Leslee Udwin, chamado "A Filha da Índia", totalmente diferente de qualquer filme Bollywoodiano que estamos acostumados. Porém, como mulher, esposa e
mãe, não posso me calar e não compartilhar tamanha atrocidade.
A personagem principal era Jyoti Singh,
estudante de medicina de 23 anos, uma menina que abriu mão do dinheiro que
seria gasto em seu casamento (dote) para pagar a faculdade de medicina. Que
trabalhava de madrugada num call
center pra poder ajudar seus
pais. Que confrontava o machismo e que lutou o quanto pôde para viver de acordo
com o que ela acreditava. (Acho que não muito diferente de nós mulheres)
No dia 16 de dezembro de 2012, ela e um amigo saíram de um cinema num
shopping de Nova Déli, e pegaram um ônibus para voltarem pra casa, era
aproximadamente 21 horas. Dentro do ônibus, havia cinco homens e um rapaz menor
de idade, todos colegas, incluindo o motorista. Durante a viagem, a estudante foi brutalmente
estuprada pelo grupo em seguida, foi atirada para fora do veículo e após alguns
dias, Jyoti morreu.
Há uma desvalorização muito grande da mulher na sociedade indiana. É
como se não houvesse lugar para nós na cultura daquele país. De acordo com
os números do governo indiano, uma mulher é estuprada a cada 20 minutos.
Uma das passagens mais chocantes do documentário acontece numa conversa
com Mukesh Singh, um dos condenados pelo estupro. Sua feição permanece fria por
toda a entrevista, e ele não demonstra nenhum tipo de remorso; inclusive, culpa
a vítima pelo ocorrido, além de deixar claro que pensa que ela mereceu tal
brutalidade. "Uma garota decente não sairia por aí às
21h", diz Mukesh.
Assim que o documentário foi lançado mundialmente, o governo indiano
baniu sua exibição na Índia. A cultura indiana é muito machista ainda nos dias
de hoje. Entretanto, acredito que as diversas manifestações públicas por parte
da sociedade mais jovem da Índia tenha surtido grande avanço
sócio-cultural.
Lembro das inúmeras vezes do meu sogro me alertando para que eu JAMAIS
me separasse deles na minha estadia da Índia. Ficava furiosa por me sentir
enjaulada, com raiva deles, achava que era exagero, quando que, na verdade, ele
- o meu sogro - sabia exatamente dos riscos que uma mulher corre andando
sozinha na Índia.
Vi jovens nas ruas, exigindo leis mais sevaras para o crime de estupro,
tão comum e banalizado pela impunidade naquele país. Foi um primeiro
passo. Infelizmente isso jamais trará de volta Jyoti ou até mesmo a paz no
coração daqueles que a amavam. Que o sacrifício dela tenha servido para uma
maior percepção humana daqueles que ainda desvalorizam tanto a mulher na Índia.
Se quiserem assistir na Netflix:
https://www.netflix.com/search/india's%20daughter?jbv=80073593&jbp=0&jbr=0
Fonte: http://www.vice.com/pt_br/read/a-filha-da-india-o-filme-sobre-o-estupro-coletivo-que-chocou-o-mundo-chega-ao-brasil
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