"Há quem diga que está faltando homem. Me parece que quanto mais
essa ideia toma forma diante de nossos olhos, mais o desespero feminino se
torna latente. Essa é uma constatação tão provável quanto lamentável: estamos
perdendo o jogo pra nós mesmas.
Ao passo em que a máxima de que toda mulher, pra ser mulher, precisa de
um homem ao lado se solidifica, traz consigo a ideia de que (quase) todo
defeito masculino é aceitável: Ele te trai, mas tá faltando homem; Ele te
subjuga, mas tá faltando homem. Te trata mal, te expõe ao ridículo e não te faz
feliz, mas é melhor – sempre melhor – do que não ter um homem ao lado. Ele é
namorado da sua melhor amiga, da sua irmã, da sua mãe ou da sua prima, mas se
ele der mole é melhor aproveitar: Não é em qualquer esquina que se encontra um
homem (tão valioso que dá em cima da melhor amiga/filha/irmã/prima da própria
companheira).
Passamos a nos trair e nos comportar – digo “nós” enquanto mulher, mas,
sem hipocrisia, nem de longe compactuo com este comportamento e nem posso
generalizar – como se estivéssemos numa guerra permanente em que o prêmio é ter
um homem pra chamar de seu.
O pior de tudo isso – sim, ainda pior do que nos trair e nos submeter a
comportamentos masculinos inaceitáveis – é que algumas mulheres estão simplesmente
deixando de ser quem são: tudo isso em nome de um relacionamento amoroso, ainda
que capenga, inútil e infeliz – porque antes mal acompanhada do que só.
O mal do século é que me parece que toda mulher gosta de futebol, toda
mulher é tranquila, gente boa e equilibrada. Toda mulher vira a melhor amiga da
sogra e dos amigos dele, e faz carinho no Totó dele e torce pelo time dele.
Toda mulher conhece todas as posições sexuais do mundo, é fogosa e
completamente liberal: puta na cama e santa na rua, como nove entre dez dos
homens sempre sonharam.Toda mulher prefere beber cerveja com os amigos do
namorado do que sair com os próprios (a amigos ou ler um livro, ou ver um filme
ou não fazer nada, porque toda mulher tem que ser a mulher perfeita. A mulher
que todo homem quer, porque (lembra?) tá faltando homem. E essas mulheres
perfeitas, raras e maravilhosas continuam sozinhas, exatamente como temiam. E,
não, não vejo mal nenhum nisso. Mas, acredite, elas vêem. E muito.
Essa política da perfeição está se tornando visivelmente monótona ao
passo que não há o que ser conquistado, não há o desejo, não há a deliciosa
luta diária provocada pelas diferenças: não há problemas, e isso, por mais
incrível que pareça, é broxante.
Uma mulher “perfeita” – ou que tenta incansavelmente sê-lo – é incapaz
de fazer o que eu arriscaria dizer que é a única coisa capaz de conquistar um
homem de verdade – já que é isso que tanto desejam: Desafiá-lo. Torná-lo
ansioso pela conquista, fazê-lo construir a felicidade em vez de encontra-la pronta.
As Misses simpatias e Senhoritas perfeição estão pecando por excesso.
Não seja a mulher perfeita. Seja você, mesmo que você não goste de
futebol e seja ciumenta. Mesmo que você não vá com a cara do amigo mala dele.
Mesmo que discorde com a mãe dele de vez em quando e demore pra se arrumar.
A
perfeição é monótona e relacionar-se com alguém que não oferece qualquer
desafio é deprimente. Desestimulante. Você não precisa – e não pode – ser
perfeita pra merecer alguém ao seu lado: suas qualidades serão suficientes,
desde que você tenha coragem de não mascarar os seus defeitos. A autenticidade
é afrodisíaca.
Não seja
a mulher perfeita. Seja feliz!"